Ela

Título Original: Her
País: EUA
Direção: Spike Jonze
Roteiro: Spike Jonze
Elenco Principal: Joaquin Phoenix e Scarlett Johansson
Estreia no Brasil: Fevereiro de 2014




Situado em um futuro estilizado e colorido, não muito distante do nosso mundo contemporâneo, o novo filme de Jonze faz uma profunda metáfora acerca da capacidade humana de relacionamentos em uma sociedade cada vez mais interagente com suas tecnologias. O diretor extrapola o papel dessa tecnologia que tanto nos conecta hoje para fazer um paralelo com o simultâneo isolamento interior que o indivíduo pode atingir. Ainda sim, conta-se uma história de amor que, inicialmente inacreditável para o espectador, torna-se um sentimento sincero e leal, que confronta a nossa evolução comportamental.

O roteiro, inteligentemente elaborado pelo próprio diretor em sua primeira experiência exclusiva na escrita, gira em torno de Theodore Twonbly (Phoenix), um homem de meia-idade cujo trabalho é escrever cartas sinceras e poéticas para membros dos mais diversos tipos de relacionamentos, familiares, amorosos e etc. Vivendo sozinho, enquanto tenta seguir em frente após o fim de seu casamento, ele acaba se apaixonando inesperadamente por Samantha (Johansson, voz), um inteligente e sentimental sistema operacional particular.

Um dos maiores sucessos do longa reside na capacidade que o diretor teve em obter uma forte ligação entre o protagonista e a sociedade futurística imaginada. Em diversos elementos, espertamente inseridos, vemos a clarificação de que Theodore não é uma exceção de seu tempo, e torná-lo apenas mais um em meio a tantos que similarmente sofrem de um mesmo mal, é um constante apontamento à plateia. Um convite à reflexão do estado atual em que nos encontramos e como estabelecemos nossas conexões no mundo à nossa volta.

Nesse futuro agradável e caloroso, que sempre permanece próximo de nós, vemos uma inversão de papéis sendo feita entre Theodore e Samantha. Ele é o que se fecha diante da imensidão que é o mundo físico real, tornando-se uma peça limitada, como um antigo computador sem internet. Embora ele seja uma máquina (biológica) excepcional, somente consegue se expressar inteiramente quando é operado por um artefato dotado de inteligência artificial, mostrando-se como um dispositivo humano que necessita de contato externo para funcionar. Basta ver como, repentinamente, torna-se apto a conversar e desabafar com Smantha (um sistema operacional, vale lembrar) sem nem sequer conhecê-la bem. Theodore representa um tipo de pessoa que se sente mais seguro e confiante quando lida com pessoas através internet.

Já Samantha facilmente se faz onipresente à medida que se transforma no combustível da relação. É ela quem dá ritmo à vida de Theodore. É ela quem age sobre a máquina (mecânica) Theodore. Apenas com sua voz, uma interpretação fascinante de Scarlett que ficará na memória do cinema, ela passa a ser algo tão vivo que é quase que impossível aceitá-la como não humana. Embora não seja uma máquina biológica, Samantha reproduz perfeitamente o comportamento humano, tornando-se capaz de receber e transmitir amor.

A história de Jonze deixa uma mensagem interessante. Mostra que as pessoas podem estar perdendo a capacidade de conviverem com as diferenças dos outros ao passo que se isolam com seus inúmeros dispositivos eletrônicos que guiam suas vidas eliminando sempre aquilo que não lhes agradam. Não foi isso que Samantha fez? Produziu amor em Theodore ao ter acesso a todo um banco de dados necessário para elaborar o algorítimo que gera um comportamento humano que está sempre de acordo com aquilo que agrada seu namorado.

Se seu computador pessoal ganhasse vida, ele não seria um reflexo direto de seus gostos e interesses? Samantha era uma companheira ideal construída pelo inconsciente de Theodore mas ganhou vida e passou a se aproximar de uma pessoa real e apresentar as mesmas adversidades que ele tanto quis fugir.


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