Clube de Compra Dallas

Título Original: Dallas buyers club
País: EUA
Direção: Jean-Marc Vallée
Roteiro: Craig Borten e Melisa Wallack
Elenco Principal: Matthew McConaughey, Jared Leto e Jennifer Garner
Estreia no Brasil: Fevereiro de 2014




A AIDS surgiu no início da década de 1980 como uma enfermidade completamente nova e aterradora, que amedrontou a população mundial devido a falta de respostas e soluções por conta da comunidade científica da época, defronte à assustadora quantidades de morte atribuídas a doença. Perante o caos, a desinformação só contribuiu para o maior espalhamento da doença quando esta passou a ser vista como uma contaminação exclusiva aos homossexuais, alimentando paralelamente a homofobia mundial. É neste cenário que se localiza a história de Ron Woodroof, personagem central de Clube de Compra Dallas, um dos poucos trabalhos cinematográficos sobre HIV que não são excessivamente sentimentais ou tragédias. É mais humanitário do que simplesmente sobre viver ou morrer.

Ron (McConaughey) é um tradicional cowboy texano, também mulherengo e preconceituoso, que foi diagnosticado HIV positivo com uma expectativa de vida de cerca de 30 dias somente. Diante da falta de atitude das organizações de saúde norte americanas, Ron torna-se seu próprio médico, estuda a doença e corre o mundo atrás de tratamentos medicinais que possam neutralizar os efeitos da AIDS, contrabandeando milhares de medicamentos até então não aprovados pelo governo de seu país. Sua empreitada leva à criação do famoso clube de compra de Dallas, onde muitas vítimas encontraram tratamento para seus casos.

Talvez o maior destaque do longa esteja na figura de Matthew McConaughey, ator que já vem surpreendendo muito a sétima arte com suas excepcionais aparições. Aqui, Matthew novamente mergulha nas entranhas da personagem e impressiona com a tamanha destreza que mostra ao construir a figura de um cara que, nos primeiros minutos da projeção, nos vemos incapazes com quem ter simpatia. Seu Ron é presunçoso, trapaceiro com seus amigos, machista e homofóbico. Supostamente não devemos nos importar com uma pessoa dessas mas, como que em um truque imperceptível, em pouco tempo nos pegamos aos risos com o protagonista e nos encontramos ao seu lado em sua luta. É a humanidade que McCogaunhey traz consigo.

Junto dele estão Jared Ledo e Jennifer Garner, que interpretam duas personagens fictícias adicionadas à trama pelos roteiristas. Garner vive uma médica que tenta ajudar Ron se opondo ao sistema mercatório com o qual seu hospital busca respostas à AIDS. Mas é Ledo quem desempenha papel mais importante, fornecendo a ponte entre a história de Woodroof e o já citado contexto social que envolvia a década oitenta. Ledo interpreta a travesti Rayon, que se torna sócia de Ron e a porta para que seus planos alcance a comunidade homossexual. A interação entre esses dois atores é tão expressiva que o próprio diretor chegou assumir em entrevista que evitou muito interferir suas cenas. Mantendo distante suas câmaras, Vallée filma em planos amplos, deixando com que Ron e Rayon preencham todo o espaço da tela. A ideia é sábia e o resultado é brilhante.

O tom dado ao longa pelo diretor, uma mistura de drama é comédia perfeitamente balanceada para que não se perca a seriedade que o enredo possui, é percebida entre as dificuldades de suas personagens e seus diálogos ácidos, entre as situações de claro desespero (como o primeiro internamento de Ron) e aquelas inesperadamente cômicas (como o disfarce de padre). É um trabalho primoroso que se destaca em todas as suas partes cinematográficas.



Nenhum comentário:

Postar um comentário