As Sessões

Título Original: The Sessions
País: EUA
Direção: Ben Lewin
Roteiro: Ben Lewin
Elenco Principal: Helen Hunt e John Hawkes
Estreia no Brasil: Fevereiro de 2013



A visão profana da sexualidade dá lugar aqui a um delicado estudo filosófico e social. É a história de um poeta que descobre mais uma porta no seu quarto das emoções e abre uma janela para arejar a sala da fé.

O longa conta a história de Mark (Hawkes) que, contraindo pólio aos 6 anos de idade, tornou-se paralítico e vive totalmente dependente de um pulmão de ferro. Jornalista por formação e também poeta, ele se vê como um infeliz homem, bem próximo da quarta década de vida, que nunca foi desejado e nunca conheceu o amor, quiçá prazer carnal. Entre as adversidades físicas e sua religiosidade, Mark decide junto ao seu padre confessor (William Macy), a contratação de uma substituta do sexo para uma experiência sexual. Começam então as prazerosas, confusas, embaraçosas e emocionantes sessões com Cheryl Greene (Hunt) e um primoroso estudo do ser e sua sexualidade.

Baseado no artigo escrito pelo próprio Mark O'Brien, On Seeing a Sex Surrogate, o roteiro e a direção de Lewin (que também teve pólio quando criança) são muito convincentes pela delicadeza com que retrata as incapacidades do protagonista e a sua luta não pelo prazer, mas pela descoberta de seu próprio corpo e emoções. Em momento algum vemos uma apelação por conta de seu estado físico e/ou suas limitações, mas sim um relato de gradual conteúdo a cerca da experiência em si e sua relação com o catolicismo romano de Mark.

É justamente o padre Brendan e suas atitudes que têm pertinência maior à discussão aqui proposta. Mesmo recém conhecendo uma ovelha de seu rebanho, ele coloca à frente de seus ensinamentos o sentimento humano de amizade ao decidir encorajar aquele fiel nessa empreitada nada convencional, ainda mais do ponto de vista católico. Impossível não nos remeter às discussões que cercam essa igreja nos dias de hoje, que ainda se faz valer da repreensão total da sexualidade humana, o que resulta, como temos visto, na eclosão de incontáveis escândalos de pedofilia que vão de padres a prelados. A mensagem de As Sessões é um próprio relato do quão vital é a saúde sexual de um ser.

E se o pároco não é bem representado na pele de Macy o projeto não perde seu valor devido a ótima atuação do casal central. Hawkes, que inclusive teve problemas na coluna para forçar a postura debilitada de sua personagem, passa a real impressão da situação que vive, tanto nas suas feições quanto na voz. Enquanto Hunt encarna com segurança a terapeuta que se comove com seu paciente, demostrando frente as câmeras uma clara diferença entre uma substituta e uma prostituta. Isso sem dúvida deve ter emocionado a verdadeira Cheryl que, até pelo menos seus 68 anos, ainda seguia com seu trabalho e sua família.

E dessa forma As Sessões mostra um caminho tão inusitado quanto qualquer outro para encontrar-nos com o amor. É um exemplo da irracionalidade de um dogma secular.


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