Ninfomaníaca - Volume I

Título Original: Nymphomaniac
País: Dinamarca
Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier
Elenco Principal: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Stacy Martin e Shia LaBeouf
Etreia no Brasil: Janeiro de 2014




Todo mundo sabe que sexo vende. Portanto, é de se presumir um grande potencial comercial para um filme cujo nome alude a uma mulher de desejo sexual intenso, mais que isso, vicioso. Mas não com Lars von Trier, com ele nada é ordinário. É bem verdade que há sexo no filme, muito e explícito. Mas há muito mais dedicação a seus personagens em meio às incontáveis digressões intelectuais sobre o assunto, de tal forma que, o que Ninfomaníaca tem de mais estimulante não são as cenas cruas, mas a maneira como a sexualidade é discutida e entendida.

O roteiro gira em torno de Joe (Gainsbourg), uma mulher auto-diagnosticada como ninfomaníaca que conta sua história a Seligman (Skarsgard), um senhor que a encontrou ensanguentada na rua, próximo à sua casa. Joe deseja mostrar ao seu ouvinte que ela não é um ser humano bom. Faz de sua vida uma crônica dividida em capítulos que nos levam a grandes flashbacks, desde quando era ainda uma criança. Este primeiro volume nos mostra desde a descoberta de seu órgão genital (quando ainda tinha 2 anos) até a exploração do sexo da jovem Joe.

São dois, os pontos mais fascinantes deste novo trabalho de von Trier. A capacidade de colocar em Seligman, o ouvinte, toda as indagações que surgem na plateia, de modo que somos inseridos na trama de forma ativa, dialogando com a protagonista e sendo compassíveis a ela, no intuito de realmente entendê-la. Paralelamente, o diretor elabora evasivas primorosas dentro dessa conversa para amplificar sensorialmente o seu tema. Fala-se dos mais variados assuntos (pesca, música e etc.) enquanto ainda permanecemos discutindo nada mais do que sexo. Isso, além de evitar que o filme se torne arrastado e chato, sustenta a narrativa e o espectador, elaborando uma elegante e profunda reflexão para que busquemos entender a natureza do desejo sexual.

Fisicamente, o diretor não é rude nem dócil, mas sim neutro e cru, impossibilitando qualquer choque diante das esbanjadas cenas de sexo. Mas sabemos, ou esperamos que isso mude, já que o que esta primeira parte nos conta não condiz com o estado daquela que nos narra sua história, deitada em estado deprimente. Se Joe é realmente um péssimo ser humano, muito mais deve estar por vir, e este talvez possa ser o calcanhar de Aquiles para o longa. Quebrar essa história, contínua por construção, em um momento onde as verdadeiras aflições de Joe surgem para desafiar a sua conduta, pode resultar em dois pesos diferentes para o mesmo filme.

Não é somente a química entre Gainsbourg e Skarsgard que sustenta a projeção. Stacy Martin, que interpreta Joe quando jovem, carrega toda a curiosidade e integridade da garota que não aceita o amor como ingrediente secreto do sexo. É realmente uma ninfa. Na verdade, o elenco todo é encantador, pela competência e comprometimento com a obra. E cabe aqui ressaltar a máxima alcançada por Uma Thurman na sua cena que é, ao mesmo tempo, incômoda e engraçada.

Entender toda a ideia que o diretor quer transmitir com somente metade da mensagem não é possível, o desfecho da obra está ainda por vir. Mas a estética adotada, com a utilização excessiva de película para filmar tudo, e qualquer detalhe mais, que está expresso nos diálogos, já mostra a natureza do que se quer passar ao público. Como que seguindo os conselhos do memorável Boris de Woody Allen, Lars von Trier quer que vejamos "o cenário completo". Temos de estar atento a tudo o que está envolvido ao redor do ponto central. Assim, para entender a história de Joe, vamos precisar materializar não só as suas ações, mas tudo o que faz parte do diálogo que estamos participando.

Isto não é uma saga. A segunda parte influenciará diretamente e definitivamente neste primeiro volume mas, podemos adiantar que, há a sensação de que Lars von Trier está prestes a sacramentar a sua obra mais completa, sua Magnum Opus.

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