Amor

Título Original: Amour
País: França/Alemanha/Áustria
Direção: Michael Haneke
Roteiro: Michael Haneke
Elenco Principal: Jean-Louis Trintignant e Emmanuelle Riva.
Estreia no Brasil: Janeiro de 2013

                

Representando uma rara forma de amor que se vê nos cinemas, o novo longa de Michael Haneke lida com a relação de casais nos últimos dias de suas vidas entrelaçando esse sentimento que já se tornou rotineiro com a inevitável caminhada à morte que todos nós enfrentaremos.

Acompanhando o casal octogenário George (Trintignant) e Anne (Riva), a trama se desenvolve a partir do momento que um derrame obriga o marido a mudar toda a rotina de suas vidas para cuidar de sua esposa. Haneke usa longas cenas sem praticamente mover a câmera para ilustrar toda a confortante tranquilidade que se vive naquela casa. Isso familiariza o espectador (que inicialmente é praticamente desafiado ao se tornar o espetáculo ao invés de público) com cada canto da residência, desde os "movimentados" diálogos do café da manhã até os pacatos momentos da sala de leitura, nos fazendo reagir como os próprios protagonistas à invasão que a doença de Anne faz ao ocupar a casa com todos os equipamentos hospitalares necessários para a melhor mobilidade dela.

Trata-se de uma abordagem evocativa mas seca e assim as indignidades que passam a se acumular no cotidiano de Anne (como descobrir que urinou na cama e passar a usar fraldas) são enfocadas de forma direta, como simples fatos da vida que são. Além disso, o cineasta também explora pequenos e breves momentos de leveza na decadência da mulher, como na cena em que esta brinca com sua cadeira de rodas elétrica. Ao evitar a banalização da doença, Haneke discute a velhice com certo senso de humor (o paradeiro de amigos do passado e o enterro de um deles é um desses momentos), mas sem perder o foco de que não existe conforto na morte independente da idade e estado de saúde. Às vezes, saber para onde estamos indo pode ser uma tortura.

Mais ainda, são inúmeras as artimanhas utilizadas pelo diretor para nos incorporarmos à tragédia que vive George e Anne. Não há trilha sonora, somente os sons cotidianos da morada. Os ruídos de uma cadeira de rodas motorizada, as passadas lentas e pesadas, os gemidos irritantes, tudo criando a atmosfera inquietante que ali pairou. E as atuações de Trintignat e Riva fazem o excepcional trabalho teatral necessário para a complementação dessa inserção do espectador. Eles dão vida a um casal que carrega décadas de memórias compartilhadas, atuando com perfeição os angustiantes e belos momentos onde um simples ato de ajudar a mulher a se levantar pode muito bem representar a tentativa de reerguer o passado apaixonado que está a se esvair com ela.

Assim, se o desfecho soa frio por demais (e quase que irreal na minha opinião), talvez ele não seja tão cruel quanto se possa achar, já que não havia mais alicerces fortes o suficiente para sustentar toda aquela vida construída com anos de dedicação. Muitos dirão que é o verdadeiro ato de amor. Mas talvez este seja um filme sobre o sentimento título e não sobre George e Anne. É o capítulo final de todas as outras histórias de amor tantas vezes já contadas. É a sua morte e não a sua eternização.



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