Indomável sonhadora


Título Original: Beasts of the Southern Wild

País: EUA

Direção: Benh Zeitlin

Elenco principal: Quvenzhané Wallis e Dwight Henry

Estréia: Janeiro de 2013.


        



Em seu trabalho de estreia o diretor americano Benh Zeitlin é poético ao reproduzir sua fábula através dos olhos de uma criança. Beasts of the southern wild (porque o título em português é mais uma das atrocidades das traduções brasileiras) traduz a vida em sua forma crua e natural. Exibe a paixão por viver.

A protagonista Hushpuppy (Wallis) é quem nos narra sua própria história e dos moradores da ilha conhecida como Banheira. Suas experiências com seu pai Wink (Henry), alcoólatra, e sua professora são os métodos de entrada para a formulação de seu pensamento, adulto e fantasioso, sobre o universo e sua estabilidade. No entanto, o momento que sempre foi contado em suas lendas está para acontecer. Uma tempestade está para chegar e a Banheira será inundada. Até mesmos as criaturas pré-históricas, se libertarão do gelo e começarão sua caçada pelos corações amedrontados. Hushpuppy então entra em uma jornada de aprendizado sobre a vida, coragem, amor e a busca da vitória.

Inocente e encantadora, a personagem principal desempenha uma profunda reflexão sobre a razão de se viver e conviver com tudo o que há no mundo. A atuação da pequena Quvenzhané Wallis é estonteante, e a filosofia de suas falas são tão magníficas que somente daqui há 10 anos ela terá consciência para entender a importância de seu papel. Sua fascinação pelo batimento cardíaco de qualquer ser, seu entendimento do convívio como estado de harmonia geral é o que marca na belíssima história de Alibar (o roteiro foi elaborado a partir de sua peça).

Fotografado muito bem por Ben Richardson, o longa também possui um excelente trabalho de som e impactante trilha sonora. No entanto, há uma técnica de filmagem que chega a irritar. A câmara constantemente balança ao acompanhar as personagens. Em um momento inicial, de festejo na ilha, a escolha faria sentido. Mas não há porque arrastar toda essa euforia durante toda a projeção.

A maneira como Hushpuppy enxerga o mundo e o desenrolar de toda trama seguem a linha de raciocínio do também belo A Árvore da Vida de Terrence Malick. Naquela ocasião, o longa explorava a insignificância de nossas vidas perante tudo o que há no universo. A irracionalidade de se apegar a atos religiosos na esperança de que algo superior interfira nos acontecimentos da natureza. Malick demonstrou que a vida, em todas as suas manifestação, simplesmente segue seu curso. O que se deve fazer é viver. Zeitlin e Alibar adicionam um ingrediente à esse roteiro, convívio.

Beasts of the southern wild nos ensina que as feras do medo sempre estarão nos perseguindo. Deve se ter coragem sempre. Viver não é um ato guiado por algo superior, nossas histórias nunca foram escritas e o que devemos fazer é simplesmente vivê-las. No fundo somos mais um neste abarrotado universo. Não ditamos o seu curso, mas sim convivemos no seu decorrer. E uma simples peça fora do lugar pode causar um terrível desastre.


Trailer:



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